Live Na Quinta do Boi promove engajamento de atores
“A mudança climática vem afetando a todos. Nosso debate tem uma conexão direta com o tema do desmatamento, especialmente para a produção pecuária. O que descobrimos é que vamos criar um movimento a partir do legislativo de vários países, assim como da União Europeia, para trabalhar juntos contra essa questão”, introduziu James Allen, diretor executivo da Olab, que recebeu a missão de mediar a live Na Quinta do Boi com o tema Regulamentação da Cadeia de Valor da Carne Bovina: os critérios do lado da demanda brasileira e internacional.
James contextualizou as mudanças climáticas explicando que a União Europeia já está trabalhando com uma nova legislação que cria regras de rastreabilidade para importação de alimentos e deu o tom para as falas dos convidados: “Qual é a velocidade das mudanças em favor da transparência e rastreabilidade que as novas legislações vão trazer para a produção da pecuária bovina?”
A convidada internacional Elena Antoni, da Trade Hub, organização que promove um sistema de comércio sustentável que melhore os resultados da biodiversidade e as perspectivas de desenvolvimento social nos países produtores, com foco nos fluxos de commodities agrícolas, ponderou que, se os frigoríficos brasileiros quiserem vender para a União Europeia, vão ter que atender ao novo mecanismo que cria condições de rastreabilidade para evitar produto originado de áreas desmatadas. “As políticas de negociações apresentam mecanismos de cooperação entre as regiões, harmonização de exigências legais e questões de sustentabilidade que vão afetar os frigoríficos. Há pontos vagos sobre o quanto elas ajudam a avançar na agenda da sustentabilidade”, disse.
Pedro Amaral, gerente sênior de Sustentabilidade da Mars, importadora de carne brasileira, disse que a empresa ainda está mapeando suas cadeias de fornecimento, mas que já assinou compromissos importantes, como, no Brasil, os da carne e da soja. As melhores práticas dos compromissos assumidos no Brasil, segundo ele, são norteadoras das ações da empresa. “Quando começamos uma relação com um frigorífico no Brasil, ele precisa estar nos acordos com o Ministério Público”, afirmou.
Peter Herman May, do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA/UFRRJ), disse que é possível controlar o desmatamento por meio de esforços e controles financeiros e que o Brasil provavelmente vai ser apedrejado na Conferência do Clima (COP) que será realizada em novembro, em Glasgow, na Escócia, em razão do aumento do desmatamento, que chega a números recordes em 2021. Mas o pesquisador pondera que há que se observar o comportamento de consumo no Brasil. “Somos o maior exportador de carne no mundo. Superamos Austrália e Estados Unidos. Mas 77% da produção é para consumo local. O papel da União Europeia é importante, mas seu consumo é mínimo”, disse.
Os procuradores da República do Ministério Público Federal, Rafael Rocha, do Amazonas, e Ricardo Negrini, do Pará, abordaram suas estratégias para aumentar a adesão dos frigoríficos de suas regiões aos acordos das carnes.
Rafael Rocha disse que a ameaça de multa ambiental não foi tão eficiente quanto a pressão do próprio mercado para o aumento da adesão dos frigoríficos. Ricardo Negrini abordou os três ciclos de auditorias para monitorar os produtores que venderam aos frigoríficos. Mas revelou que é difícil monitorar as atividades comerciais entre as fazendas, visto que há uma legislação que define que as Guias de Trânsito Animal (GTA) não são documentos de consulta pública para manutenção da privacidade dos produtores.
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