COP26 joga luz no papel do agronegócio brasileiro frente à mudança climática
O agronegócio brasileiro esteve representado na 26ª Conferência do Clima da ONU, ocorrida entre os dias 31 de outubro e 13 de novembro em Glasgow, na Escócia, e viu parte de seus anseios atendidos pelo Pacto de Glasgow – um documento assinado em consenso por líderes das mais de 190 nações representadas na COP26. Se, por um lado, houve frustração de expectativas quanto ao esperado financiamento de U$ 100 bilhões por ano por parte dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, por outro, houve o fechamento do livro de regras do Acordo de Paris, com a conclusão do Artigo 6 e a criação de um Mercado Global de Carbono. Nas negociações, o Brasil adotou um papel de facilitador, e não mais de bloqueador da agenda. O mercado de carbono vai incorporar, inclusive, créditos antigos do Protocolo de Kyoto, que haviam sido gerados em projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), o que era uma demanda antiga do Brasil. Haverá, contudo, uma linha de corte, ou seja, só poderão ser incorporados créditos de MDL de projetos aprovados até 2013.
Uma mensagem principal para a agricultura brasileira não poderia ser mais clara: combater as mudanças climáticas e preservar as florestas tropicais serão bons negócios para o Brasil. André Guimarães, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), destacou que a integridade das florestas brasileiras, principalmente da Amazônia, mas também do Cerrado e da Mata Atlântica, além de ter um papel central na manutenção do clima global, também trará benefícios para a agricultura, à medida que as florestas são responsáveis por manter o regime de chuvas e as condições climáticas que fazem do Brasil um grande produtor de alimentos global.
“O Brasil é um dos poucos países do mundo que, ao executar a conservação de florestas e combater o desmatamento, pode se beneficiar. O mundo hoje está comprador das florestas em pé. A gente pode olhar essa pressão toda que o Brasil tem sofrido, econômica, reputacional, como um copo meio vazio, de que vamos sofrer retaliações. Mas a visão do copo cheio é de que o mundo está nos dizendo que, se quisermos apoio para manter a floresta em pé, ele está disposto a nos apoiar”, afirmou. Segundo ele, o período pós-COP será fundamental para criar as condições para que esse apoio se transforme em recursos, projetos e oportunidades de investimento para a economia sustentável no futuro.
Caminho certo
Marcello Brito, presidente do conselho diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), ressaltou a força da agricultura brasileira e disse que é vergonhoso que ainda haja desmatamento ilegal no país. Citando dados do MapBiomas, exaltou que a agricultura tem crescido em cima de pasto nos últimos anos, e que 99% das propriedades brasileiras não têm indício de desmatamento, sendo 1% responsável por 70% do desmatamento privado no Brasil. “O restante, a gente sabe, é proveniente da grilagem de terras públicas.”
Brito afirmou que o agronegócio brasileiro está no caminho certo, com aplicação de novas tecnologias para a produção de alimentos pela agricultura de baixo carbono, por inovação com integração de lavoura, pecuária e florestas (ILPF), sistemas agroflorestais, entre outros. “As emissões da agropecuária brasileira dos últimos 15 anos vêm reduzindo.” Segundo ele, acordos internacionais firmados na COP26 e assinados pelo Brasil – como o de Florestas e o do Metano – não devem ser motivo de preocupação para quem está comprometido com a agricultura de baixo carbono. Brito disse, ainda, que fóruns como o da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e o da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia, que estiveram representados na Conferência do Clima, mostram que é possível construir convergências.
O painel intitulado “Soluções para ganho de escala de práticas de baixa emissão de carbono na agropecuária brasileira”, realizado no espaço no Brazil Climate Action Hub – o espaço da sociedade brasileira na COP26 – no dia 6 de novembro, fortaleceu ainda mais o argumento de que é possível implementar práticas sustentáveis na agropecuária brasileira. Durante o debate, a Minerva Foods apresentou os resultados de um estudo-piloto que comprovou o resultado positivo na redução de emissões e no sequestro de carbono a partir da aplicação de boas práticas agrícolas em 25 fazendas distribuídas por cinco países da América Latina.
Imaflora na COP26
O Imaflora apresentou também a iniciativa Carbon on Track , desenvolvida com o apoio da Minerva. “Esse programa valoriza a agropecuária brasileira de baixo carbono. O objetivo da plataforma é o de apresentar dados setoriais da pecuária e, futuramente, também de grãos e de restauração, para divulgar e disseminar boas práticas para outras empresas e outros produtores”, explicou Isabel Garcia Drigo, coordenador de Clima, Agricultura e Florestas do Imaflora. A transparência do manejo no campo, segundo o pesquisador Raoni Rajão, da Universidade Federal de Minas Gerais, será premissa cada vez mais exigida pelos mercados internacionais. Assista ao vídeo de lançamento.
No painel, os participantes exploraram também questões relativas às vantagens de mecanismos de rastreabilidade no combate ao desmatamento e apresentaram soluções para o avanço na agenda de uso da terra e sobre o papel dos governos subnacionais no desenvolvimento de planos regionais de ação climática. Ficou claro, no debate, a importância de as políticas públicas serem pautadas em ciência. Mauro O´ de Almeida, secretário de Meio Ambiente do Estado do Pará, apresentou resultados da iniciativa Selo Verde para a cadeia da pecuária.
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