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Tecnologia amplia transparência na cadeia da pecuária

13.08.2021

Em 2019, a Safe Trace e as organizações não-governamentais Amigos da Terra e The Nature Conservancy, começaram a Parceria Pela Agropecuária Responsável, um projeto foi financiado pela Partnership for Forests, e  da união da empresa com as duas ONGs nasceu a Conecta, uma ferramenta para apoiar o monitoramento da cadeia de bovinos e trazendo luz para o relacionamento com fornecedores indiretos dos frigoríficos, já que o fornecedor direto já é monitorado por uma série de controles. Em entrevista ao blog do Programa Boi na Linha, Vasco Picchi, diretor de novos negócios da Safe Trace, explica a proposta do Conecta de  trazer ferramentas de transparência para a cadeia da carne e colaborar para a construção de uma pecuária livre de desmatamento, desde a cria até o produto final.

Tecnologia amplia transparência na cadeia da pecuária
Vasco Picchi, diretor de novos negócios da Safe Trace

Blog Boi na Linha: Quais são essas ferramentas?

Vasco: Existe uma dificuldade do produtor rural que vende para um frigorífico de entender como está a situação de regularidade da propriedade dele. Muitas vezes ele recebe uma negativa de compra de um frigorífico e ele não sabe exatamente porque. Faltam meios para ele poder conhecer qual é a situação de irregularidade dos seus próprios fornecedores. Então o Conecta oferece três ferramentas para apoia-lo, uma é um aplicativo mobile que ele utiliza no celular, com a mesma tecnologia do PIX e também blockchain, que é uma tecnologia super segura por transmissão de dados. O objetivo desse aplicativo é que a gente seja um meio para o produtor rural para que ele consiga consultar os dados sobre ele, sobre a propriedade dele em bases que sejam públicas ou privadas, por exemplo na Defesa Agropecuária, compras e vendas, os dados dele de cadastro, os dados dele com o frigorífico. A partir desse momento, ele tendo esses dados em mãos, ele pode tomar uma decisão, entender qual é a situação na fazenda dele, inserir dados de fornecedores dele para consultar, por exemplo, a conformidade socioambiental desse fornecedor. Além de saber sobre a conformidade dele, ele consegue ver a do fornecedor e escolher com quem ele quer compartilhar essa informação. Então, quando um frigorífico vai fazer uma compra, o produtor decide se vai ou não compartilhar informação. Ou se ele vai tomar crédito em um banco, também pode escolher quais informações ele quer utilizar para conseguir uma melhor taxa de crédito. 

 

Blog Boi na Linha: Essa ferramenta, quem paga?  Como é que funciona?

Vasco: Quem paga é o interessado em compartilhar informações com o produtor. Por exemplo, o frigorífico que vai demandar informação do produtor por esse meio para que ele possa ter uma informação segura e validada pelo produtor. É  ele quem paga pelo uso do Conecta. A mesma para uma indústria de insumos, um banco, ou outros clientes da cadeia.

 

Blog Boi na Linha: Quem usa o Conecta hoje?

Vasco: O Conecta está saindo agora para fase dois, ele teve uma fase inicial com a base de informações da Frigol. Ele acabou de ser anunciado  pela Marfrig como uma ferramenta de monitoramento e a gente está fazendo com eles um primeiro movimento no Estado do Mato Grosso. O Conecta também está provendo infraestrutura tecnológica à JBS, no Pará.

 

Blog Boi na Linha: E o único papel do produtor é baixar o aplicativo e inserir e acessar informações?

Vasco: Isso. Inserir, acessar informações e autorizar uma vez demandando quem ele autoriza a ver aquelas informações. A inserção pode ser feita offline e sincronizada com o sistema ao conectar-se à Internet.

 

Blog Boi na Linha: Ele já opera dentro da Lei Geral de Proteção de Dados.

Vasco: Ele foi feito e construído nessa realidade da LGPD.

 

Blog Boi na Linha: E qual é a segunda ferramenta?.

Vasco: A segunda ferramenta para o produtor é uma página web  www.pecuariaresponsavel.com.br onde ele tem acesso a todas as informações que estão no ambiente mobile. Como a gente traz os registros de compras e vendas da propriedade dele, é possível  acessar todo o estoque de rebanho oficial na Defesa Agropecuária, os registros das compras e das vendas. O produtor consegue fazer declaração de operações como vacinações, morte de animais,  ver como está a situação dele nos fornecedores em relação a diferentes protocolos de compra e com isso ele pode acompanhar se está elegível ou não a atender mercados diferenciados, se consegue um preço mais alto, ou se vai ter algum diferencial no valor desse animal.

 

Blog Boi na Linha: E o modelo de quem paga pelo serviço é o mesmo?

Vasco: A nossa filosofia aqui é que o produtor  é o agente de informação. Ele está vendendo o produto e a informação. Portanto quem paga pelo serviço é o interessado em comprar o produto dele e a informação. O papel dele é alimentar a autorizar.

 

Blog Boi na Linha: E qual é  a terceira ferramenta?

Vasco: A terceira não é uma ferramenta para o produtor. Ela corre transparente nesse processo todo. Mas ela é uma base totalmente em blockchain. A  gente utiliza uma estrutura que chama-se Hyperledger onde a gente faz dois usos dela: um é um framework que chama-se Hyperledger Fabric onde todos os dados de rastreabilidade são registrados de maneira segura e auditável para  ter total transparência na cadeia, desde que o produtor permita o acesso à informação. E o outro é um framework específico, que é de identidade, parecido no PIX, que chama-se Hyperledger Indy. Ele é um framework de blockchain específico para criar credenciais de pessoa física,  como se fosse o CPF e o CNPJ eletrônico da sua propriedade. É uma prova digital de que aquela propriedade é de uma pessoa determinada e que quem está dizendo são tais bases de dados. É uma infraestrutura em blockchain que permite uma transação segura de dados, dentro da LGPD, e com grande escalabilidade, com grande possibilidade de auditoria também.

 

Blog Boi na Linha: Quais benefícios vocês conseguiram mensurar?

Vasco: O primeiro é o benefício de acesso a dados. O produtor tem muita dificuldade de acessar os dados da sua propriedade. Muitas vezes ele tem um problema de irregularidade que não conhece ou  não sabe o que fazer. O Conecta traz essa informação para o produtor. E a gente também trabalhou em uma frente muito voltada a The Nature Conservancy (TNC) de apoiar  a construção e validação do fluxo de readequação de uma propriedade porque a nossa intenção com o conecta não é restringir mais produtores ao fornecimento, mas é trazer mais produtores para a regularidade. Então a gente também ajudou a construir  o caminho com o Ministério Público Federal de readequação desses produtores para que o frigorífico possa voltar ao circuito formal de vendas, evitando assim triangulação de gado, e uma série de outros problemas da pecuária que levam a contaminação de animais por desmatamento. Então, o é maior transparência na cadeia. A gente consegue ajudar o frigorífico a ter um primeiro diagnóstico dos seus fornecedores e entender onde estão os seus maiores riscos. E a mesma coisa para o produtor. Com o salto tecnológico, o produtor passa a ter essa informação de uma maneira automatizada e totalmente dentro da LGPD. E com maior velocidade, tanto na negociação com o frigorífico, quanto em permear essa informação de regularidade socioambiental entre o frigorífico e o produtor.

 

Blog Boi na Linha: Existe alguma possibilidade do produtor favorecer o acesso à informação ao Ministério Público também?

Vasco: Se demandado pelo Ministério Público Federal e autorizado pelo produtor, sim. O importante para a gente é que sempre este rito seja respeitado, o dado é do produtor. Então qualquer um que tenha acesso ao dado do produtor tem que solicitar para o produtor e o produtor pode usar isso como ferramenta ao seu favor em qualquer situação, seja junto com o estado, seja junto com iniciativa privada.

 

Blog Boi na Linha: Quais são os próximos passos?

Vasco: Além dessa frente com os frigoríficos que estão convidando os seus produtores a participar,  há outra com as associações de produtores. Então a associação de produtores convida o produtor e a partir daí ele acessa a rede.

 

Blog Boi na Linha: No longo prazo o que vocês esperam com esse projeto?

Vasco: Esse projeto é muito focado nas relações privadas. A dinâmica dos acordos multilaterais entre Mercosul e União Europeia, dos próprios acordos privados entre os grandes importadores e os frigoríficos nacionais, está fortemente atrelada à  responsabilidade socioambiental. Então isso está levando à construção de protocolos de compra tanto aqui dentro, no varejo nacional em você pode ver políticas de compra sendo declaradas. E o que o Conecta faz é ser um caminho para que a área demandante e o cliente final tenham os seus próprios requisitos de transparência, de rastreabilidade e de sustentabilidade. E que esses requisitos  possam diferenciar a cadeia não só no que está apto a fornecer ou não está apto fornecer. Mas para cada requisito de quem está apto a fornecer, e como esse produtor pode, na base da oferta e da demanda, ter um melhor preço pelo seu animal, ter uma melhor colocação do seu produto e que esse valor seja compartilhado na cadeia. Então o objetivo do Conecta é democratizar o acesso a essa informação, dar transparência e ao mesmo tempo fazer com que todos os elos da cadeia consigam de certa forma diferenciar os seus produtos e colocá-los nos melhores mercados.

 

Blog Boi na Linha: Quais são as informações que o produtor  coloca no Conecta?

Vasco: São três grandes conjuntos. Informações sanitárias do rebanho como  número de animais por categoria, vacinações, etc. O segundo conjunto de dados está relacionado às questões socioambientais, e desmatamento ilegal, que é o assunto mais tocado neste momento, e o terceiro reúne os dados de operações, que a trabalha não só a rastreabilidade externa desse animal, mas a interna também, que é o produtor poder identificar o seu animal com  o brinco, acompanhar pesagem, fazer todos aqueles dados de manejo interno.

 

Blog Boi na Linha: Todo esse processo é um facilitador de auditorias?

Vasco: Sim, ele é interessante porque ao ter acesso ao mesmo dado eventualmente em três, quatro fontes diferentes a gente consegue trazer mais transparência e ajudar a auditoria até para validar qual é a informação real.

 

Equipe Boi na Linha